Quando o suporte Super-8 estava em alta em Santa Maria, em 1974, foi realizado na cidade um dos filmes desse formato que mais mobilizou os realizadores daquela época.
Trata-se de O Velório do Vicente Silveira, que infelizmente está desaparecido.
A ideia partiu do professor de inglês Modesto Wielewicki.
Modesto não participava do Departamento de Cinema da cidade, mas era amigo de vários componentes do clube e, por isso, acabava por participar das produções deles. Ele já fazia
uma série de imagens da cidade, com caráter documental, e, naquele ano, resolveu dirigir um filme próprio.
Tive oportunidade de conversar com Modesto sobre o filme em 2012, meses antes de sua morte. Ele demonstrou muito orgulho do filme e lamentou que há vários anos não sabia de seu paradeiro. Na época, ele contou que "O Velório do Vicente Silveira" foi adaptado de um romance inglês da escritora Willa Carther's.
A emblemática trama traz a história de um intelectual, nascido em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, que morre no Rio de Janeiro.
O corpo chega de trem para o enterro na pequena cidade natal. Os dois atores principais do filme foram Luiz Carlos Grassi, que interpreta um amigo do morto, que acompanha o corpo desde o Rio de Janeiro, e Clenio Faccin, que interpreta um advogado. O próprio Modesto interpretou o morto. Quando o caixão chegava, começava um clima de fofoca, especulando que o falecido, por ser artista, era homossexual.
Quando entrevistei Modesto para a conclusão da pós-graduação em Cinema, na UFN, ele lembrava de detalhes preciosos do filme, e se emocionou contando:
- A abertura é linda. Aparece um dia cinzento e o pessoal na estação ferroviária, esperando para levar o caixão. Toca um sino e solta uma música, "Funeral para um amigo", do Elton John, instrumental.
Uma das características que diferenciaram o filme foi o fato de ele ser um média-metragem, de cerca de 30 minutos, quando a maioria das produções realizadas em Super-8 eram de filmes mais curtos. No elenco, havia um nome importante devido à sua popularidade naquela época, o cantor Ivory Gomes de Mello, mais conhecido como Cerejinha. Além disso, Modesto foi à TV Imembuí e colocou anúncios, convidando para a seleção de elenco.
As gravações duraram cerca de um mês porque eram feitas em turno alternado com o trabalho dos integrantes da equipe, que não viviam do cinema.
As locações foram divididas entre o centro de Santa Maria, onde uma empresa emprestou uma casa que estava sendo demolida, e o distrito de Arroio do Só. Muitas pessoas que passavam pelos locais de gravação acreditavam que se tratava de um velório de verdade.
- Tinha uma cena que o caixão passava na rua, e foram abrir a igreja correndo, achando que iríamos levar um morto para lá. Perguntavam quem era o morto - lembrou Modesto.
Com o filme, Modesto recebeu o prêmio de melhor direção no Festival Regional do Filme Super-8, em Santa Maria.